Apagar o Antes

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Pandemia, perdas, luto

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AUTORIA

Luiza Pires Vaz Camarano , Daniele John , Glenda Beigler , Vivian Confessoro

ABSTRACT
Esse trabalho foi escrito a partir do atendimento de crianças através do programa ComTato, do Instituto Fazendo História. O programa oferece psicoterapia para crianças que, por razões diversas, precisaram deixar suas famílias de origem. Como terapeutas do programa, nos chamou a atenção algo que se repetia em muitos casos: a dificuldade, por parte dos adultos, em lidar com o passado das crianças e adolescentes em acolhimento. 
Observamos que, tanto os profissionais das instituições de acolhimento, como representantes das políticas públicas, profissionais do sistema judiciário, bem como os pais que adotam, parecem compartilhar da crença de que, para que o processo de adoção seja bem sucedido, a criança precisa esquecer da vida que tinha antes e “começar do zero”. 
Sabemos que, quando uma criança chega a uma instituição de acolhimento, ela traz consigo uma história marcada por perdas, rupturas, negligências e violências de distintas ordens, o que justificaria o imperativo pelo esquecimento.
Contudo, tal demanda pelo esquecimento se faz não apenas impossível de ser realizada, como também, ao contrário do que se supõe no senso comum, algo que termina por atrapalhar os processos de luto aos quais uma criança precisa passar para que, de fato, possa aceitar os desafios inerentes aos processos de adoção.
A partir da teoria psicanalítica sabemos que o material recalcado segue gerando efeitos, ainda que aparentemente esquecido, podendo inclusive retornar como sintoma quando não elaborado. Ou seja, esquecer não é o mesmo que apagar. Podemos dizer que, para poder seguir adiante, para poder fazer o luto e elaborar sua história, falar sobre ela é algo fundamental. Neste sentido, a exigência desse apagamento, pode vir a agravar o sofrimento e as dificuldades inerentes aos processos de acolhimento e adoção. 
Se crianças muito pequenas e mesmo bebês já carregam uma história que precisa ser considerada e reconhecida quando chegam ao abrigo ou a uma nova família, que dizer de crianças maiores, que possuem inúmeros vínculos, acumularam experiências, amigos, identificações e podem falar em nome próprio sobre o que lhes aconteceu? 
Como lidar com esta exigência de que deixem os laços anteriores para trás, que “esqueçam” suas vidas até ali para começarem algo “novo”?  Quais seriam os efeitos de tais exigências para as crianças e adolescentes, bem como para os adultos com elas envolvidos? Como tal imperativo afeta os processos de luto? Traremos alguns casos clínicos que acompanhamos para poder endereçar tais questões. 

Para participar do debate deste artigo, .


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