O ensino remoto na pandemia: limites e possibilidades a partir da escuta dos professores
DOCUMENTAÇÃO
Tema: Mal-estar contemporâneo e impasses na educação
Temas Correlatos: Mal-estar contemporâneo e impasses na educação;
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AUTORIA
Patricia Da Silva Gomes , Juliana Tassara Berni , Márcio Rimet Nobre , Helena Greco
ABSTRACT
Este trabalho traz reflexões sobre as vivências dos professores no início da pandemia de Covid-19. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, seguindo o referencial teórico da psicanálise: o sujeito constrói um saber no momento mesmo em que fala, saber marcado pela fantasia e o desejo, bem como por elementos que podem compor a transferência. Buscamos, através do contato direto com os professores, proporcionar um espaço para que pudessem falar sobre suas vivências e, de alguma forma, elaborá-las a partir do recurso simbólico da fala. A escuta dos profissionais permitiu os seguintes recortes: o apagamento dos limites entre o público e o privado, o papel do olhar na transmissão do saber, a transferência e seus efeitos no espaço virtual e o despertar da invenção por meio da potencialidade do digital. Para os professores, transmitir sem contar com a presença e os olhares dos alunos foi limitador. Entretanto, a adesão e a participação dos alunos nas aulas foi garantida pela transferência. Os alunos se faziam presentes, aguardando que o professor também assim se fizesse, senão com seu corpo, com sua imagem, escuta e olhar, ainda que perpassados pela tela. Além disso, no apagamento dos limites entre o público e o privado, o professor precisou expandir sua capacidade de invenção em diferentes direções: além de ter que inventar modos de garantir o engajamento dos alunos, a partir das potencialidades dos dispositivos digitais, foi preciso lançar mão de novos anteparos, buscando preservar a privacidade comprometida pelos múltiplos olhares que agora chegavam em seu espaço de recolhimento. É também em termos transferenciais que tais anteparos produzem efeitos, na medida em que permitem manter a dimensão do enigma necessário ao laço e, portanto, ao engajamento dos alunos. Se a pandemia foi um divisor de águas nesse tempo de trabalho ininterrupto para os professores, a monotonia superficial da tela vem exigir um pouco mais de seu desejo para a transmissão do saber.
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