SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ ASSOCIADA AO VÍRUS ZIKA NA BAHIA: SÉRIE HISTÓRICA (2015 A 2017)

DOCUMENTAÇÃO

Tema: Economia da Saúde e Politicas Públicas da Saúde

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AUTORIA

Alana Maria Alves Costa , Carolayne Fernandes Prates , Tarcísio Viana Cardoso

ABSTRACT
INTRODUÇÃO
O Zika vírus (ZIKAV) caracteriza-se como um arbovírus pertencente à família flaviviridae, sendo transmitido principalmente através da picada de insetos do Aedes Aegypti. O primeiro registro do Zika vírus ocorreu em 1947, na Uganda, especificamente na floresta Zika, onde foi identificado em macacos e, somente em 1952 o mesmo foi relatado pela primeira vez em humanos. Estudos realizados apontam que o Zika possui predileção por regiões tropicais e subtropicais, o que explica sua grande disseminação pelo mundo (RIBEIRO et al., 2017).
Segundo Pitanguy (2016) a chegada do vírus no Brasil foi confirmada em maio de 2015, exibindo inicialmente caráter endêmico. Passado alguns meses iniciou-se a investigação e correlação do vírus com malformações congênitas e presença de doenças neuropáticas como a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), logo após, foi registrado um surto da infecção no país, afetando principalmente a população mais vulnerável e tornando-se um problema preocupante para a saúde pública brasileira.
Da Nóbrega e colaboradores (2018) definem a Síndrome de Guillain-Barré como uma polineuropatia resultante de infecção viral, que desencadeia uma resposta autoimune no organismo afetado. O quadro clínico baseia-se na perda de força muscular generalizada e simétrica que inicia nos membros inferiores e gradativamente alcança a musculatura superior, podendo atingir até mesmo os músculos respiratórios. A SGB alcança sua fase crítica até a quarta semana após o início dos sintomas, no entanto, na grande maioria dos casos há completa recuperação, em contrapartida, 20% dos pacientes podem apresentar graves sequelas.
De acordo o exposto percebe-se a magnitude epidemiológica de tais infecções no âmbito do Estado da Bahia. A doença sugestivamente pode vir correlacionada aos quadros patológicos como a Síndrome de Guillain-Barré, esta por sua vez pode interferir de forma direta na funcionalidade e na qualidade de vida dos indivíduos afetados. Assim, a discussão acerca do tema em questão poderá contribuir epidemiologicamente e socialmente para o controle da situação epidemiológica e erradicação da SDB.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de dados secundários, com caráter analítico, descritivo e de abordagem quantitativa, baseado em dados epidemiológicos, agregados e secundários à Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP), obtidos junto a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), realizado com o propósito de verificar a situação epidemiológica sobre a Síndrome de Guillain-Barré relacionada ao vírus Zika no estado da Bahia entre os anos de 2015 a 2017.
As variáveis estudadas neste manuscrito foram: idade, sexo, casos notificados, casos confirmados e proporção de novos casos.
Os dados epidemiológicos utilizados para a produção do estudo correspondem somente ao território da Bahia. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a Bahia possui 564.760,427 km² de extensão, distribuídos entre 417 municípios, com população estimada de 14.873.064 pessoas para o ano de 2019 (BRASIL, 2020).
O estudo realizado baseia-se em documentos de domínio público, com característica epidemiológica documental. De acordo Piana (2009) a pesquisa documental constitui-se como uma fonte de grande confiabilidade, ao qual se utiliza documentos que são cientificamente verdadeiros e que permitem interpretação analítica sobre determinados dados. Marconi e Lakatos (2010) afirmam ainda que ao realizar um estudo do tipo documental o autor assegura suas fontes de dados, pois utiliza de fontes baseadas em dados e informações oficiais, garantindo que estes sejam fidedignos.
Por se tratar de uma pesquisa que tem como fonte os dados de domínio público, o presente estudo não foi submetido ao Comitê de Ética- Plataforma Brasil, contudo, foram respeitados todos os princípios éticos necessários para a elaboração do estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Síndrome de Guillain-Barré é uma síndrome neuropática que possui antecedentes infecciosos em cerca de 60% dos casos, gerando uma resposta autoimune que leva a desmielinização dos nervos periféricos por meio de anticorpos que atacam as estruturas neurais ao identifica-las como potenciais antígenos. No Brasil, a incidência da SGB apresentou um crescimento de 19% entre janeiro e novembro do ano de 2015, onde então foi identificado que os indivíduos diagnosticados com a síndrome possuíam infecção prévia do vírus Zika (OLIVEIRA; FIRMINO; CAVALCANTI, 2019).
Atif e colaboradores (2016) relatam que o principal país da América Latina acometido pelo vírus Zika foi o Brasil, que registrou 1.500.000 casos entre os anos de 2015 e 2016. A grande distribuição vetorial esta relacionada aos recursos econômicos extremamente limitados em algumas regiões brasileiras, além disso, alterações climáticas e a carência de informações preventivas para a população também fazem parte do processo, o que justifica a maior concentração da epidemia no Norte e Nordeste do país, especialmente em estados como a Bahia, que apresentam tal perfil.
De acordo o informe epidemiológico, no ano de 2015 foram notificados 64.478 casos relacionados à infecção por Zika vírus na Bahia, distribuídos em mais de 70% dos municípios baianos, retratando uma proporção de 426,26 novos casos para cada 100.000 habitantes. Em relação a maior incidência, o sexo feminino foi o mais acometido com 62,8% dos casos, enquanto os indivíduos de 20 a 39 anos foram os mais afetados. Durante este período houve notificações de 177 casos de neuropatias relacionadas à arboviroses, sendo 65 destas diagnosticados como SGB, concentrando 36,72% dos casos (BAHIA, 2015).
Malta e contribuintes (2017) afirmam que o surto de notificações da Síndrome de Guillain-Barré no primeiro semestre de 2015 apresentou um acréscimo de 66% quando comparado ao mesmo período dos anos de 2008 e 2014 no estado da Bahia, tal aumento foi identificado após a introdução do vírus Zika, sugerindo que este seja a principal causa do crescimento da curva epidemiológica dos casos suspeitos da Síndrome de Guillain-Barré. Estudos observacionais identificaram a presença de exantema, artralgia e febre em 51% dos indivíduos diagnosticados com a síndrome, referindo prévia infecção do ZIKV (BROGUEIRA; MIRANDA, 2017).
Em 2016, o número de casos notificados relacionados ao ZIKAV apresentou pequena regressão, no qual foram registrados 56.807 casos em 354 (84,9%) municípios da Bahia, com aproximadamente 373,6 casos novos para cada 100.000 habitantes. O maior número de casos permaneceu entre o sexo feminino (65,2%) e na mesma faixa etária que o ano anterior (36,7%). Houve ainda notificações de 47 casos referentes à SGB, sendo confirmados 55,3% destes (BAHIA, 2016). Os dados apresentados revelam redução de cerca 71% dos casos de SGB, entretanto é importante considerar possíveis subnotificações (BAHIA, 2016).
No ano de 2017 a curva epidemiológica continuou a regredir e foram identificados 2.588 casos de Zika, distribuídos entre 167 municípios do estado, com incidências de 17 casos por 100.000 habitantes. Mulheres (67,8%) e adultos jovens entre os 20 e 39 anos (42,3%) seguem sendo a população com maior índice de infecção pelo vírus. No mesmo ano foram notificados 27 casos de SGB, com confirmação de 37% dos mesmos (BAHIA, 2017).
De acordo os dados epidemiológicos apresentados percebe-se que houve significativa redução do número de casos relacionados à Síndrome de Guillain-Barré, entretanto, devido ao fato desta ser causada por outros vírus há grande dificuldade na apuração epidemiológica para identificar a infecção do ZIKV em indivíduos com SGB, já que os sintomas podem ser confundidos com os de outras arboviroses (ARAUJO; FERREIRA; NASCIMENTO, 2016).
A partir dos dados apresentados nota-se que as repercussões do Zika vírus envolvem grande complexidade, pois este ultrapassa os limites da infecção e desencadeia quadros patológicos graves como a SGB. A causalidade e persistência do vetor esta relacionada a condições sanitárias precárias, oriundas de descarte inadequado do lixo, presença de esgotos a céu aberto e armazenamento inadequado de água, promovendo assim um ambiente propício para o desenvolvimento do mosquito, ou seja, o resumo de um cenário que facilmente é encontrado nas moradias mais carentes da Bahia e do Brasil. Desta forma, se torna perceptível que os pobres são os mais vulneráveis a infecção do Zika vírus, assim como constituem a classe mais limitada aos meios de tratamento de saúde (LESSER; KITRON, 2016).
CONCLUSÕES
De acordo a série histórica analisada é possível considerar que houve epidemia do Zika vírus no estado da Bahia e consequente surto da SGB no ano de 2015, no entanto, entre 2016 e 2017 ocorreu significativa redução do número de casos. Apesar dos resultados positivos, há necessidade de melhores e maiores estudos para análise de correlação dos eventos.
Analisar o cenário epidemiológico referente ao vírus possibilita a adoção de ações que promovam sua erradicação. Assim, o presente estudo contribui socialmente ao realizar o levantamento da verdadeira situação do vetor, demonstrando quais fatores ainda levam a persistência do mesmo no estado da Bahia, o que comprova a carência de ações mais específicas direcionadas ao Zika vírus.
A SGB, associada diretamente, ou não, com o Zika Vírus, causa grandes repercussões na saúde dos infectados, afastando-os de suas atividades diárias, laborais e recreacionais, interferindo diretamente na qualidade de vida, desta forma, é necessário que as políticas públicas de saúde desenvolvam recursos que garantam o melhor acesso as condições de saneamento básico para a população, além de promover ações educativas contínuas que cessem os índices de morbidade causados pelo ZIKV.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, L. M.; FERREIRA, M. L. B.; NASCIMENTO, O. J. M. Guillain-Barré syndrome associated with the Zika virus outbreak in Brazil. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 74, p. 253-255, 2016.
ATIF, M. et al. Zika virus disease: a current review of the literature. Infection, Bahawalpur, v. 44, p. 695-705, 2016.
BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Boletim epidemiológico das arboviroses. BAHIA, 2017. 2017.
BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Informe epidemiológico da Síndrome de Guillain-Barré. Bahia, 2016. 2016.
BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Situação epidemiológica das arboviroses. BAHIA, 2015. 2015.
BAHIA. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Situação epidemiológica das arboviroses. BAHIA, 2016. 2016.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/panorama. Acesso em: 05/06/2020.
BROGUEIRA, P.; MIRANDA, A. C. Vírus Zika: Emergência de um Velho Conhecido. Revista Medicina Interna, Lisboa, v. 24, p. 146-153, 2017.
DA NÓBREGA, M. E. B. et al. Surto de síndrome de Guillain-Barré possivelmente relacionado à infecção prévia pelo vírus Zika, Região etropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, 2015. Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 27, p. 1-12, 2018.
LESSER, J.; KITRON, U. A geografia social do Zika no Brasil. Revista Estudos Avançados, São Paulo, v. 30, p. 167-175, 2016.
MALTA, J. M. A. S. et al. Síndrome de Guillain-Barré e outras manifestações neurológicas possivelmente relacionadas à infecção pelo vírus Zika em municípios da Bahia, 2015. Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 26, p. 9-18, 2017.
MARCONI M.A., LAKATOS E.M. Fundamentos da metodologia científica. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
OLIVEIRA, J. A. ; FIRMINO, M. F. F.; CAVALCANTI, D. B. A. Guillain-Barré syndrome associated with arboviruses in the state of Pernambuco in 2016. Revista Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 32, p. 1-10, 2019.
PIANA, M. C. A construção da pesquisa documental: avanços e desafios na atuação do serviço social no campo educacional. São Paulo: UNESP, 2009.
PITANGUY, J. Os direitos reprodutivos das mulheres e a epidemia do Zika vírus. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.32, p. 1-3, 2016.
RIBEIRO, B. N. F. et al. Síndrome congênita pelo vírus Zika e achados de neuroimagem: o que sabemos até o momento?. Revista Radiologia Brasileira, Rio de Janeiro, v. 50, p. 314-322, 2017.

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COMENTÁRIOS
Foto do Usuário Alana Maria Alves Costa 09-02-2021 09:50:35

O estudo apresenta uma temática importante e está escrito de forma clara e precisa.

Foto do Usuário Andreza Gonçalves Vieira Amaro 09-02-2021 09:50:35

O tema é muito interessante e ver os números permite perceber como uma doença se associa a outra.

Foto do Usuário Kamila Vieira Moraes 09-02-2021 09:50:35

Tema muito relevante para os dias atuais, visto que o Brasil é um país em que o índice de arboviroses é muito significativo. Excelente trabalho.

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